Descoberto primeiro inseto que transmite luz azul na América Latina

in #pt5 years ago

A larva do mosquito Neoceroplatus betaryiensis, encontrada em uma reserva da Mata Atlântica no município paulista de Iporanga, possui características bioluminescentes encontradas apenas em outros continentes

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Foto de Henrique Domingos/Instituto de Pesquisas da Biodiversidade (IPBio)

Publicado na revista Scientific Reports, o trabalho científico de pesquisadores brasileiros divulgou a descoberta de uma larva de mosquito com a capacidade de emitir luz azul. Fato inédito na América do Sul, apesar de haver muitos insetos e fungos bioluminescentes no continente, mas todos emitindo luz nas cores verde, amarela ou vermelha.

No ano de 2017, o biólogo Isaias Santos e o pesquisador norte-americano Grant Johnson (bolsista de treinamento técnico da FAPESP) participavam de uma expedição na Reserva Betary (vizinha ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar) - município de Iporanga, sul do estado de São Paulo - SP), quando encontraram em meio a alguns troncos caídos alguns indivíduos emitindo luz azul. Ambos trabalham no Instituto de Pesquisa da Biodiversidade (IPBio), organização que administra e realiza atividades turísticas, de educação ambiental e pesquisa na reserva. Foram através de algumas dessas pesquisas que se constatou que boa parte das espécies de cogumelos bioluminescentes do mundo estão abrigadas nessa área de Mata Atlântica.

As descrições dos indivíduos bioluminescentes foram enviadas ao professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e coordenador do trabalho Cassius Stevani, que, com a ajuda da entomóloga Rafaela Falaschi (pós-doutoranda da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), descobriu-se de que se tratava de um novo inseto bioluminescente. O nome Neoceroplatus betaryiensis foi escolhido em referência à reserva Betary.

Segundo o professor Stevani, os mosquitos adultos da espécie recém descoberta não emitem luz, somente as larvas (com menos de 2 cm de comprimento) são dotadas de três órgãos bioluminescentes - dois próximo aos olhos e um na extremidade final do corpo. O professor ainda afirma que só haviam sido identificadas espécies emissoras de luz azul na América do Norte, Nova Zelândia e Ásia, chamados de “glow-worms”, em tradução livre, “larvas brilhantes”.

Além da fascinante descoberta e contribuição para os estudos da biodiversidade brasileira, as substâncias presentes nessas espécies bioluminescentes como a luciferina, têm potencial de aplicação nas áreas de pesquisa médica, biotecnológica, industrial e farmacêutica. Por exemplo, algumas células específicas podem ser marcadas por meio de manipulação genética, com substâncias bioluminescentes e serem facilmente visualizadas no microscópio. Essas substâncias já são usadas para marcar células de câncer, testar a viabilidade de espermatozoides, detectar patógenos e metais pesados em amostras de água.

Alguns exemplos de bioluminescência na ficcção e mundo afora

Se fizermos um paralelo didático, a bioluminescência pode ser experienciada em filmes de ficção, como Avatar do diretor James Cameron. Para quem já assistiu, conseguiu ver as deslumbrantes florestas do planeta Pandora, aonde muita parte da trama do filme ocorre. Durante a noite, os ambientes entre as árvores são extremamente iluminados, devido às luzes emitidas por diversos seres. É claro, este é um exemplo um pouco mais exagerado de bioluminescência, mas vale a pena conferir.

Avatar_Jungle_vzlPdM.jpg A floresta bioluminescente de Pandora. Foto: Walt Disney Imagineering / Divulgação

No caso da vida real, como já sido levantado pelo professor Stevani, há diversos fenômenos bioluminescentes no mundo, alguns provocando paisagens noturnas extraordinárias. No paradisíaco arquipélago das Maldivas, por exemplo, os turistas podem conhecem praias embelezadas pela presença de fitoplânctons bioluminescentes. As águas do mar, ao serem agitadas pelas ondas oceânicas, fazem com que esses indivíduos microscópicos emitam luzes. Ao olhar para o chão, pode-se ter a impressão de que está vendo a via láctea. E, de fato, o fenômeno é chamado, nas Maldivas, de "mar de estrelas". É difícil saber exatamente quando o "mar de estrelas" irá aparecer.

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Imagem de Getty Images

No Japão, mais precisamente na região litorânea de Okayama, é possível ver parte da orla coberta pelo que, à primeira vista, parece ser uma tinta psicodélica que brilha no escuro. A visão, na verdade, é causada pelo que os japoneses chamam "umi-hotaru", uma minúscula espécie de crustáceo bioluminescente que existe na área.

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Imagem de Getty Images

Na Ilha de Vieques em Porto Rico, existe um lugar chamado Bahía Mosquito, um dos mais famosos pontos de observação de bioluminescência no mundo. A luminosidade é causada pela presença de dinoflagelados na área.

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Imagem: PawelG Photo/Getty

Referências bibliográficas

O artigo Neoceroplatus betaryiensis nov. sp. (Diptera: Keroplatidae) is the first record of a bioluminescent fungus-gnat in South America (doi: 10.1038/s41598-019-47753-w), de Rafaela L. Falaschi, Danilo T . Amaral, Isaias Santos, Adão H. R. Domingos, Grant A. Johnson, Ana G. S. Martins, Imran B. Viroomal, Sérgio L. Pompéia, Jeremy D. Mirza, Anderson G. Oliveira, Etelvino J. H. Bechara, Vadim R. Viviani e Cassius V. Stevani, pode ser lido em: (www.nature.com/articles/s41598-019-47753-w)

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