Pensamos em demasia e sentimos bem pouco...

"“Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.” Chaplin
Obra: The Great Dictator (1940)

O mundo lá fora nos influencia o tempo todo. E quando estamos vivendo as nossas vidas bastante identificados os acontecimentos externos, costumamos ter a sensação de que tudo muda rápido demais e que o nosso ser mal consegue acompanhar. Quando isso ocorre, é porque estamos envolvidos em demasia com a loucura da vida contemporânea... que nos bombardeia a todo momento com notícias, falsas necessidades de consumo, lançamentos de produtos e informações, muiotas informações. Perdemos a noção de quem somos no meio de tudo isso e esquecemos de sentir a vida que pulsa em nós de forma independente dos acontecimentos externos.

A mente conectada com o mundo lá fora segue alucinada acompanhando as ocorrências externas, interpretando, a todo momento, tudo o que se passa. No Ocidente, toda a nossa educação está voltada para aprender a acúmular informações. No Ocidente, temos a ideia de que é apenas das reflexões mentais que podem surgir novas compreensões. Mas nós não somos apenas essa maquininha registradora e questionadora alojada em nossas cabeças. A nossa percepção do mundo passa pelas percepções do corpo, pelos sentimentos, pela intuição e pela nossa capacidade de testemunhar a vida no mais profundo silêncio interno, como nos mostram algumas práticas Orientais ancestrais. Sabe quando éramos crianças e os dias eram longos? Tudo era mais intenso... as cores, as formas, os sabores... A vida não era acelerada como na vida adulta... e não passava em preto e branco. Era bastante colorida. Nós estávamos abertos para investigar o mundo e deixar que as impressões dele chegassem até nós... Nós não víamos o mundo simplesmente através do filtro dos nossos pensamentos, pois ainda não havíamos gerado esse emaranhado de conceitos sobre as coisas ao nosso redor. Nós simplesmente desfrutávamos da vida ao nosso redor. Hoje perdemos toda a nossa atenção no nosso fluxo interno de associações mentais sobre tudo e sobre todos. Hoje pensamos em demasia e sentimos bem pouco, como afirmou Chaplin.

Normalmente, estamos tão envolvidos com a tagarelice das nossas mentes, que começamos a viver como se fôssemos os nossos pensamentos . Assim, permanecemos seguindo para onde a mente quer que a gente vá. Vivemos nossas vidas frequentemente imaginando e mentalizando situações que nunca irão ocorrer, alimentando expectativas vazias ou lembrando de ocorrências do passado que nada nos servem hoje... Esse fluxo diário de pensamentos descartáveis que flui dentro de nós faz com que a gente perca o espetáculo da vida que acontece à nossa frente, a cada momento.

Perdemos a capacidade de testemunhar a vida e de desfrutar do instante em absoluto silêncio interno... e em paz. Para muitos, no Ocidente, alcançar esse silêncio mental pode parecer tolice, ou mesmo algo impossível. Nunca puderam se separar do processo automático da mente. Nunca puderam perceber que existe uma possibilidade de estarmos ligados a um EU mais livre e menos suscetível aos acontecimentos externos. No Ocidente, abandonamos muitas práticas ancestrais que nos ensinavam a esvaziar a mente e passamos a exclusivamente reverenciá-la, prenchendo-a com a maior quantidade de informações possíveis, grande parte delas sem correspondência nenhuma com a nossa vida prática.

Nós nos esquecemos de que temos uma vida interior. Aprendemos a olhar muito mais pra fora do que pra dentro de nós mesmos. E como a mente normalmente tem um funcionamento bastante automático, costumamos frequentemente nos assustar ao nos deparar com a rapidez do fluir dos fatos e da própria vida. Quando "caímos em nós", passaram-se semanas, meses, anos.... absortos nesse processo automático, sem que tenhamos percebido

Mas é possível começar a desacelerar esse processo interno de identificação com o mundo exterior. E quando inciamos esse processo de desacelerar, passamos a sentir que as transformações internas estão ocorrendo de forma mais profunda que as mudanças externas que passam diante de nós. As mudanças externas perdem a relevância que tinham outrora. A vida fica mais intensa. Você não mais enxerga o mundo preto e branco. Não mais enxerga o mundo com uma mente cansada e "nublada". Em alguns momentos, é possível sentir dentro de si um céu limpo, livre de medos e preocupações.
É possível aprender a apreciar a vida novamente... livre de seus condicionamentos mentais. É possível voltar um pouco a ser criança... E você não perde nada com isso. Apenas ganha maor clareza mental, inclusive frente às demandas da vida adulta.

Embora tenhamos a impressão que as coisas do mundo estão em constante mudança... A verdadeira mudança em nós, só pode iniciar de dentro para fora. As circunstancias do mundo, por si só, não mudam a nós mesmos... Nós é que temos a possibilidade de mudar a partir da percepção mais profunda delas e de nós mesmos. É assim quando você muda o foco de sua vida e passa a se aproximar do seu mundo interior. Você não mais se sente totalmente tragado pelas circunstancias externas e não mais sente que a vida está passando de forma acelerada. E aí você vê que o que, de fato, estava passando de forma acelerada eram os seus pensamentos. Nós enxergamos no mundo o ritmo que temos dentro de nós.