Palavras Pré-Historicas

in #archeology5 years ago

Você sabia que certas palavras da língua portuguesa podem ter surgido ainda na pré-história, a uns 9000 anos atrás?
A fala é muito mais antiga do que a escrita. Sem termos, aparentemente, nenhum vestígio dos primeiros idiomas falados pela humanidade, imaginamos, intrigados, como os homens das cavernas se comunicavam, como ele chamavam os objetos... a natureza à sua volta.
Até que os historiadores de deram conta de que temos milhares de vestígios desse idioma primordial. Ora, os idiomas falados hoje são descendentes do primeiro idioma, certo? E o português, pasme, é derivado de línguas muito antigas, muito mais antiga que o Inglês!
Por meio de comparação entre palavras, fonemas e sintaxes que são semelhantes em diversos idiomas que sabemos ter raízes bem antigas, como o Latim, o Sânscrito, o Persa, etc, nós conseguimos reconstruir, com algum nível de confiabilidade, esse idioma primitivo. E chamamos de proto-indo-europeu.
Os estudiosos crêem que o proto-indo-europeu tenha sido falado a talvez 9 000 anos atrás. Mas, ao analisar algumas palavras reconstruídas eu arriscaria dizer que muitas palavras do proto-indo europeu, descendem ainda de palavras faladas mesmo antes da nossa era; sim, descendem de palavras faladas na época dos mamutes e tigres-dentes-de-sabre!
E a nossa língua portuguesa? Aonde ela se encaixa nesse estudo? A língua portuguesa é parte de um grupo linguístico denominado "Gálicos", sendo descendente das línguas itálicas (latim) e helenísticas (grego). De modo que falamos uma língua que é bem antiga. Diferentemente do inglês, por exemplo, que é uma língua bem mais moderna.
Será que, pelos menos algumas palavras portuguesas que falamos, seriam relíquias linguísticas, preservadas quase intactas ao longo de centenas de milhares de anos? Ou quem sabe, de antes ainda, quando os animais pré-históricos vagavam por esse planeta? Fascinado por essa pergunta eu fiz uma pesquisa e separei palavras portuguesas ainda mantidas mais ou menos semelhantes àquelas palavras bem antigas que foram reconstruídas em estudos linguísticos. Algumas dessas palavras pesquisadas, remontam, sem sombra de dúvidas ao proto-indo-europeu.

Smilodon_Knight.jpg

Deus. Foi uma das palavras que motivaram os estudiosos a começarem a análise comparativa de idiomas, que chamamos hoje de linguística comparativa.
O mercador italiano Filippo Sassetti, do século XVI, notou em suas diversas viagens pela Ásia que a palavra "Deus", em sânscrito (devah) era parecida com o correspondente em italiano (Dio).
Com a reconstrução do hipotético idioma ancestral, o proto-indo-europeu, chegou-se a uma palavra ancestral para "Deus" muito semelhante a que usamos ainda hoje: "Deiwos (Lê-se Deiuos)".

Alto. Faz muito, mais muito tempo que usamos essa palavra para indicar elevação em relação à superfície terrena. A palavra ancestral, do proto-indo-europeu, é altós.

Não. Mais antiga do que "sim", "não" é parecido em praticamente todos os idiomas. No (inglês), non (latin e francês), nein (alemão), neit (russo), e até em africâner, nia. Como já vimos, isso é um indício da antiguidade da palavra, segundo, a linguística comparativa. A palavra ancestral é nee.

Fera. Não é tão parecida no proto-indo-europeu, que soa algo como "guéra". Mas, em um ambiente pré-histórico, se um nativo lhe apontasse um animal e dissesse "guéra", você facilmente usaria a palavra "fera" como referência e compreenderia que o animal é feroz.

Ânus. Nos tempos remotos, essa palavra era usada com o significado de "círculo", inclusive no idioma ancestral reconstruído, que tem a palavra "anos" significando "círculo". Até que alguém teve a ideia de chamar a nossa "rodinha" de ânus, porque... ora... porque também é um círculo... ou não?

Data. Hoje em dia, essa palavra é usada para significar o dia em relação ao mês, ao ano, enfim, ao calendário. Ou até como sinônimo de informação. Mas antigamente, nos tempos remotos, essa palavra tinha o significado de "tempo": ano, dia ou até mesmo hora. Era a palavra ancestral "daitis", segundo os linguistas comparativos

Tigre. A palavra Tigri, ou Tighra, aparece escrita, pela primeira vez no idioma avesta, um dialeto que deu origem ao já muito antigo idioma persa. A palavra apareceu fazendo referência ao tigre, no Avesta, escrito sagrado do Zoroastrismo.
O que é intrigante nessa palavra é que ela se derivou de "steig", do proto-indo-europeu, e significa "ponta afiada". Ora, em que período mais se poderia chamar um felídeo de "ponta afiada"?

A Teoria da Continuidade Paleolítica.

Embora o consenso entre os historiadores seja de que o idioma falado tenha surgido antes de 9 000 anos atrás, há uma minoria de cientistas que são adeptos da Teoria da Continuidade Paleolítica, que remete o idioma ancestral a antes mesmo do período holoceno, e sim no plesitoceno, a época dos mamutes e smilodontes.
O linguista que mais defende essa tese é o italiano Mario Alinei, que afirma que os idiomas europeus se dividiram ainda no paleolítico. Ele disserta sobre isso em seu livro Origini delle Lingue d' Europa (Origem da língua da Europa).
Outro linguista de renome que tocou nesse assunto foi Colin Renfrew em seu livro Archaeology and Language: The Puzzle of Indo-European Origins (Arqueologia e Linguagem: O Enigma das Origens Indo-Européias.

É incrível saber que hoje em dia ainda usamos algumas palavras que eram basicamente as mesmas usadas pelos primeiros seres humanos a muitos milhares de anos atrás, não é?

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