CRÍTICA | Doutor SonosteemCreated with Sketch.

in #art4 years ago


Anos
após os eventos ocorridos em O Iluminado
(do livro de Stephen King, 1977),
Danny Torrence (Ewan McGregor) agora é um adulto atormentado por seus traumas e que
luta para superá-los e, finalmente, encontrar paz interior e estabilidade. No
entanto, uma conexão repentina com Abra
Stone
(Kyliegh Curran), uma menina
com capacidades sobrenaturais extraordinárias e ameaçada por um grupo que se
alimenta de iluminados, o obriga a revisitar seu passado e encarar seus medos.

Em Doutor Sono, o diretor e roteirista Mike Flanagan (Ouija: Origem do Mal, O Sono da Morte) dá preferência a uma trama próxima do livro escrito por King e à continuação homônima do universo de Danny Torrence, escrita em 2013, ao invés de seguir os acontecimentos d’O Iluminado, o reverenciado terror de Stanley Kubrick (1980). Inclusive Flanagan capta e utiliza elementos presentes em obras que são referências para o escritor. A ideia do ambiente sugar a energia de um indivíduo, por exemplo, está presente em A Assombração da Casa da Colina (1959), de Shirley Jackson. A autora já foi citada e referenciada em Salem (ou A Hora do Vampiro, 1975) e tal conceito também se manteve na adaptação do livro de Jackson para a Netflix (A Maldição da Residência Hill, 2018), a qual Flanagan também dirigiu e foi e um dos autores. E além das referências e inspirações, mais camadas foram adicionadas à história e aos personagens de Doutor Sono. A mitologia dos iluminados ganha mais espaço para desenvolvimento enquanto observamos as consequências das suas habilidades; como eles as utilizam e como elas moldam o caráter, a personalidade e a forma de enxergar o mundo.


Doutor Sono é uma sequência plausível e coerente para a trajetória de Danny Torrence, mas com pouca personalidade

Mas há também constantes acenos e referências ao O Iluminado de Kubrick, que desempenha função narrativa ao mesmo tempo em que homenageia o diretor. A recriação estética e dos planos do clássico sugerem que Doutor Sono continua a trajetória também a partir dos acontecimentos dessa versão; os desdobramentos causados pelas férias no Hotel Overlock são apresentados em paralelo com as cenas reproduzidas, frame por frame, do cultuado filme de horror.

Mas a obra de Flanagan opta por utilizar as convenções de gênero e dialogar com um público mais abrangente. Ainda assim, os jumpscares, as cenas violentas e a apelação à trilha sonora são utilizadas de forma a complementar a tensão causada pela antecipação, pelo desconhecido e pela sugestão de ideias perturbadoras.

Entretanto, o excesso de sequências similares à adaptação de Kubrick torna o filme redundante e prolongado além do necessário. Afinal, desde o início fica claro que se trata da trajetória de Danny lidando com os traumas causados pelo surto de seu pai. Portanto, essas replicações, ainda menos sutis no terceiro ato, imprimem uma tentativa de apelar à nostalgia do espectador, que pode ser evocada ao simplesmente se deparar de novo com o ambiente hostil do Hotel Overlock. Talvez, caso essas referências visuais fossem executadas de forma mais discreta e menos decisiva para a trama, o longa teria mais objetividade e mais espaço para desenvolver a proposta de se aproximar do livro de King, ou demonstrar uma identidade mais forte.

Além disso, os temas que o filme aborda são pouco desenvolvidos. Mensagens pertinentes, como se libertar de amarras impostas por si mesmo ou por que hoje os iluminados possuem menos ‘vapor’ (alimento para o grupo de antagonistas), ganham pouco espaço para elaboração. Considerando esse vapor como uma força vital, o modo de vida contemporâneo, as angústias humanas atuais em relação ao contexto político e social, as pressões cotidianas, o receio pelo desconhecimento do futuro, são questões de natureza mais profundas, que trabalhadas com mais afinco, gerariam maior identificação e aproximação.

Doutor Sono é uma sequência plausível e coerente para a trajetória de Danny Torrence. A narrativa o conduz para o enfrentamento dos traumas causados por seu pai, Jack, a fim de esclarecer questões obscuras quanto à sua família e a aceitação de seu dom como parte de si. Mesmo que a intenção possa ter sido agradar aos fãs de King e de Kubrick, misturar os melhores elementos de ambos os autores não faz com que esses universos não sejam essencialmente distintos. Somar isso à falta de uma mensagem clara e trabalhada ao longo do filme resulta numa obra com pouca personalidade e identidade. Uma luz oscilante.




Data de estreia: 07 de novembro de 2019
Título Original: Doctor Sleep
Gênero: Ação, Comédia, Terror
Duração: 2h32
Classificação: 16 anos
País: Estados Unidos, Reino Unido
Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan
Cinematografia: Michael Fimognari
Edição: Mike Flanagan
Trilha Sonora: The Newton Brothers
Elenco: Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Kyliegh Curran, Cliff Curtis, Zahn McClarnon, Emily Alyn Lind, Selena Anduze, Robert Longstreet, Carel Struycken, Catherine Parker, Carl Lumbly, Roger Dale Floyd, Alex Essoe, Violet McGraw



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