CRÍTICA | Morto não falasteemCreated with Sketch.

in #art4 years ago (edited)

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O médico legista Stênio
(Daniel de Oliveira) passa suas
noites de trabalho conversando com mortos recém-chegados no Instituto Médico
Legal de uma cidade grande e violenta de São Paulo. No entanto, quando ele
decide desafiar as normas e utilizar das confidências que ouve para executar
uma vingança pessoal, ele e sua família passam a ser assombrados por um
espírito furioso. Sua capacidade paranormal de se comunicar com os mortos,
então, se torna sua maldição e ruína.

Morto Não Fala é
o primeiro longa-metragem de Dennison Ramalho, diretor com experiências em curtas de horror – como, por exemplo, Amor Só de Mãe, de 2003, e Ninjas, de 2011), além da do roteiro deEncarnação do Demônio, de José Mojica Marins, em 2008. Seu novo
filme é baseado no conto escrito há 15 anos pelo jornalista policial Marco de Castro. Com habilidade e
precisão, a direção de Ramalho cria
uma atmosfera sombria, incômoda e envolvente, um dos principais elementos que
contribui para o funcionamento da trama. Os tons esverdeados e amarelados da
fotografia de André Faccioli auxiliam
na criação de um ambiente repulsivo, acompanhado por cadáveres sanguinolentos,
dissecados e desmembrados. Mesmo com pinceladas de elementos de outros gêneros,
não há abandono do tom e da proposta principal; desde os momentos de drama
familiar às tiradas cômicas dos cadáveres mais sarcásticos, há consistência na
tensão construída por uma narrativa de causa-efeito. Aliás, há muita
inventividade em trabalhar com desdobramentos – para cada ação e escolha feita
por um personagem, há uma consequência aterradora, senão sádica, esperando.

A química entre os personagens é bem
construída, a ponto de tornar críveis as relações entre eles, o ambiente em que
vivem e as situações as quais são submetidos. Suas decisões, mesmo quando
perigosas, extremas ou incorretas (de um ponto de vista moral), são
compreensíveis e motivadas por mais de um fator, o que ajuda a eliminar
maniqueísmos simplórios. Na verdade, mesmo que o Morto Não Fala pareça não possuir uma crítica social evidente, ela
está lá, sutil, percebida também pelo modo como morreu cada recém-chegado ao
necrotério. Os diálogos de Stênio com
os mortos revelam questionamentos interessantes quanto à vida e à morte – a
efemeridade da vida vale os prazeres individualistas e arriscados? O tema da
morte ganha certo enriquecimento e complexidade, já que a pluralidade
brasileira permite que diferentes pontos de vista, contextos e realidades sejam
explorados.

Ainda quanto aos cadáveres, o filme opta por efeitos
computadorizados para fazer com que falem. É de uma artificialidade notável que
causa perda de fisionomia e expressividade dos atores. No entanto, já os
efeitos práticos são interessantes e bem executados. Além disso, apesar do
horror não se prender unicamente a convenções de gênero, como jumpscares e gore, esses recursos não são utilizados de forma gratuita e
repetitiva. Por fim, há um problema quanto ao ritmo; em certos momentos, a
trama se apressa. Em outros, se arrasta. Enquanto alguns fatos são lançados em
tela e resolvidos de forma breve demais, não dando espaço para maior
desenvolvimento e compreensão, em outros momentos algumas cenas são esticadas
demais, dando a impressão de que se quer extrair mais do que elas podem
oferecer, o que pode torná-las cansativas. Ainda assim, fiquei intrigado e
ansioso para assistir à conclusão, que é difícil de ser antecipada.

Com passagem por mais de 40 amostras estrangeiras de cinema e aclamado pelo público e crítica internacionais, Morto Não Fala apresenta uma trama instigante, levanta questionamentos interessantes quanto aos temas que propõe abordar e, apesar dos defeitos pontuais, demonstra o constante aperfeiçoamento e amadurecimento do cinema brasileiro de gênero.


https://www.youtube.com/watch?v=ML4nEpAjbNM

Data de estreia: 10 de outubro de 2019****Gênero: Terror, SuspenseDuração: 1h50Classificação: 16 anosPaís: BrasilDireção: Dennison RamalhoRoteiro: Cláudia Jouvin, Dennison Ramalho, baseado em obra de Marco de CastroCinematografia: André FaccioliEdição: Jair PeresElenco: Danielde Oliveira, Fabiula Nascimento, Bianca Comparato, Marcos Kligman, Annalara Prates, Marco Ricca


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