Sobre escrever em português

in #brasillast year

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(Foto original tirada por mim em 15 de março de 2020, em São Paulo, Brasil.)


Olá!

Confesso que gosto de escrever em inglês, mas também que sou completamente apaixonado pela nossa Língua Portuguesa. A complexidade é amedrontadora, mas é também fascinante. Dado que sou um bacharelando em matemática, não me sinto confortável de tentar explicar concretamente o por quê do português ser complexo; mas me sinto bem seguro pela minha experiência, de que definitivamente não é simples.

Me aventurei nessas últimas semanas a escrever aqui em inglês, em parte por ter a curiosidade de entender quão diferente seria meu alcance, mas principalmente porque queria me desafiar a criar e escrever nessa língua que me acompanha desde pequeno. Tem sido uma experiência interessante, mas creio que deva registrar aqui quão positivo foi receber o apoio de brasileiros que admiro nesta rede novamente, mesmo que eu sempre apareça e desapareça por períodos imprevisíveis. Escrevo porque me faz bem, e paro quando não parece fazer mais sentido naquele momento.

Assim, agradeço aqui a @wagnertamanaha e @casagrande: o primeiro por ter sido, de fato, o primeiro a interagir comigo nesta rede, quem me mostrou as primeiras direções nesta jornada, e que até hoje me faz sorrir quando dá um "upvote" num post meu por aqui; o segundo por, anos depois, ainda me surpreender positivamente com o apoio através do @brazilians e de sua curadoria pessoal. Mesmo sem termos tido um contato mais próximo, sempre vos admirei pela presença e trabalho maravilhosos na comunidade brasileira, lusófona e latina, algo tão importante num mundo dominado pelo inglês.


Dito isso tudo, hoje encontrei no meu pc essa foto que estampa este post. Como explicitei na legenda, ela foi tirada em 15 de março de 2020.

Registro aqui tragicomicamente, que havia um posto na foto original vendendo etanol por R$2,99 e parte de mim chorou.

Mas no momento que tirei a foto, eu não tinha ideia de quantas partes de mim ainda chorariam, muito menos do quanto. Quinze de março de dois mil e vinte foi o último dia que eu estive fora de casa, antes de começar uma quarentena que eu não tinha como ter a menor ideia da extensão que duraria, ou de quanta dor geraria. Lembro de resolver algumas coisas do trabalho, buscar algo de bicicleta, e tirar esta foto no caminho de volta para casa, no final da tarde. Dias nublados normalmente são confortáveis para mim, mas me lembro de estar me sentindo com medo naquele dia; e esse leve arco-íris no céu foi um reconforto para mim. Parei, respirei fundo, bebi minha água, tirei essa foto e voltei a pedalar rumo à minha casa.

Frequentemente paro para refletir o quanto toda essa experiência pandêmica afetou e ainda continuará a afetar a nossa saúde mental e o modo como nos relacionamos, enquanto paradoxalmente fomos levados a apenas seguir com nossas vidas presencialmente como se as proporções traumáticas do evento não fossem uma questão relevante. Me percebo às vezes numa pressa inexplicável para fazer algo e consigo encontrar em mim a paz para parar e refletir, o quanto essa angústia pelo resolver o mais rápido possível é real, ou apenas minha própria. Passamos literalmente algumas centenas de dias em nossas cosas, ou se não, vivendo uma rotina completamente diferente de qualquer outra que já havíamos experienciado; mas cá estamos novamente, lutando com o tempo.

Claramente não tenho uma vasta experiência em viver, aqui no auge dos meus 25 anos, mas definitivamente não foi e nem tem sido fácil. Eu podia ter de enfrentar só um desafio de cada vez, pelo menos de vez em quando, sabe? Felizmente descobri também que não adianta de nada se irritar com a vida, muito menos com os outros, se eles não tiverem nada a ver com o motivo de sua irritação.

Não sei se seguirei escrevendo também em portugês, se deixarei de escrever em inglês, ou ainda se começarei a escrever apenas em italiano (mas provavelmente não kkkkk). Só sei que pretendo continuar a escrever, porque sou apaixonado pelo português, mas sou mais apaixonado ainda pelo processo de escrever. Entrar em contato com nós mesmos, com nossa vulnerabilidade, e tentar expressar isso de forma sem julgamento ou violência consigo mesmo, foi a grande ferramenta que me ajudou a vencer uma batalha no campo da saúde mental, e que hoje em dia me ajuda a estruturar meus pensamentos e meus sentimentos.

Espero que estas palavras te encontrem bem, mesmo que as coisas não estejam bem. Como escrevi no post About the Dichotomy of Being (em que, confesso, escrevi Dichotomy errado inicialmente), a vida é feita dessas complexas dicotomias que nos tiram da zona de conforto. Por isso reitero, espero que esteja bem, mesmo que não esteja.

Sort:  

Valeu pela lembrança! Pena que os brasileiros e falantes de português preferiram ir para a outra blockchain depois do hard fork. Hoje por aqui predominam os coreanos, indianos, indonésios, venezuelanos, etc, talvez os posts em inglês nem sejam mais a maioria. Valeu! Saúde, sucesso e boa sorte mais uma vez!

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