Coração de Cinzas – Capítulo Um
Este post faz parte do meu livro Coração de Cinzas, um romance medieval cheio de mistérios, maldições e amores impossíveis.
Aqui começa a jornada que me levou a Tenebra — o reino onde as sombras têm vida e onde meu destino foi selado antes mesmo de eu nascer.
Espero que gostem do Capítulo Um.💀🌙
Capítulo Um
Dizem que não escolhemos o amor, é ele quem nos escolhe.
Um mistério que, por mais simples que pareça, carrega uma verdade profundamente intrigante.
E o mais cruel de tudo é saber que eu não terei tal sorte.
Fui prometida — ou melhor, entregue de bandeja — a uma das famílias mais temidas que se possa imaginar: os Corvin.
Os Corvin são a família real do Reino de Tenebra, um lugar onde as sombras contam histórias de guerras e maldições. É o maior e mais poderoso de todos os reinos, conhecido por suas batalhas sangrentas e por um passado que o próprio tempo teme relembrar.
Conta-se que um antigo rei teve sua esposa arrancada de seus braços e sepultada pelos inimigos. Tomado pela dor, o rei tentou vingá-la fazendo um pacto com uma xamã, que lhe concedeu o poder da lua, uma força capaz de destruir qualquer exército — em troca de sua alma.
Mas o rei não sabia que toda dádiva carrega um preço.
E o preço que pagou foi a própria humanidade.
Assim nasceu a maldição dos Corvin.
Desde então, ele e seus descendentes carregam o mesmo fardo: a licantropia.
De dia, um homem.
Em noites de lua cheia… outra criatura.
Viajantes que ousam cruzar as estradas próximas ao castelo afirmam ouvir, ao longe, gritos, choros e o estridente soar de ferro contra pedra. Alguns dizem que é o eco da dor do rei, ainda vagando entre os muros de Tenebra.
Os reinos ao redor se curvam à vontade dos Corvin.
Não por lealdade — mas por medo.
Pois sob o luar, o sangue corre… e nenhum inimigo sobrevive.
Com o passar dos anos, os filhos do rei cresceram fortes; no entanto, o monarca, já envelhecido, adoeceu.
Com sua morte, seus dois filhos, Adrian e Lucien, encontram-se à mercê do trono. Para decidir quem herdará a coroa, os reinos vizinhos enviaram suas filhas, numa tentativa de conquistar o coração e o poder de um dos irmãos.
Adrian e Lucien são gêmeos, e isso tornou a escolha da sucessão ainda mais difícil.
Mas seu pai deixou uma única ordem para determinar o destino dos dois:
Aquele que se casar primeiro governará Tenebra.
Venho de uma terra distante — um reino pequeno, quase esquecido: Velmorra.
Sofremos inúmeras perdas em batalhas e fomos deixados para trás, como um fragmento de glória que o tempo insistiu em apagar.
Meu pai, acamado e em seus últimos dias de lucidez, me fez um único pedido:
que eu não permitisse que nosso reino fosse destruído, que Velmorra não caísse no esquecimento.
Com a voz fraca e o olhar perdido entre a vida e a morte, ele me implorou que partisse rumo a Tenebra — para que minha beleza fosse minha espada, e meu destino, o último sacrifício em nome da sobrevivência de nosso povo.
Disse-me que, se eu tivesse êxito, talvez o esforço de sua vida não tivesse sido em vão…
e que Velmorra, enfim, pudesse prosperar após tantos anos de ruína.
E é por isso que parto hoje rumo ao meu destino.
Uma história drástica, como tantas que se perderam nas sombras de Tenebra.
Afinal…
as moças que não são escolhidas raramente voltam vivas daquele reino.
Carrego comigo uma missão que vai além de um simples casamento.
Não basta conquistar um dos príncipes prometidos — preciso sobreviver aos vinte dias em Tenebra, entregue aos caprichos dos herdeiros do trono.
Durante esse tempo, serei posta à prova em tudo: etiqueta, postura, beleza… e talvez até em minha própria humanidade.