O show do Roger Waters foi uma aula de história sobre amor

in #pt6 years ago

O começo do show não foi explicitamente político, as primeiras músicas ( Speak to Me, Breathe, One of These Days) "esconderam" o que viria a suceder-se: UM SHOW COMPLETAMENTE POLÍTICO.

Após as primeiras referências ao posicionamento político, os ânimos começaram a se aquecer. Um grupo na minha frente lançou " O show não precisava doutrinar as pessoas, ele devia só cantar". Um pouco depois, um grupo ergueu uma bandeira que dizia " FUCK YOU ROGER WATERS, PLAY THE SONG".

Daquele momento em diante, o show bombardeou a platéia com imagens, músicas e referências que foram EXPLICITAMENTE, uma mensagem contra o antissemitismo, machismo, racismo, crimes ambientais, corrupção política, fascismo, opressão, indústria militar, etc

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Quando as reações contrárias à manifestação política do show começaram, eu senti muita raiva. Raiva de compartilhar de um mundo em que dizer "SEJAMOS TODOS IGUAIS" é uma ofensa e que merece vaia. Raiva de pensar que o movimento fascista está ganhando força em todo o mundo e não só no Brasil. Raiva de ver discursos de ódio se sobrepor à discussões saudáveis.

O show de quarta exibiu o nome desse triste candidato que ronda sobre nós como " Ponto de vista político censurado" , o que causou grande confusão entre todos. As interpretações foram variadas. Na minha perspectiva, ela foi uma provocação aos apreciadores do show que queriam usufruir da música, com o CONFORTO de não precisassem entender NEM UMA FUCKING VÍRGULA do que estava sendo cantado.

Uma coisa é discordar sobre COMO podemos acabar com desigualdade racial, de gênero e econômica. Outra coisa completamente diferente é achar que essa desigualdade é boa e que artistas ou que qualquer pessoa deva exercer suas atividades SEM se preocupar com esses problemas, deixando eu com meu lazer, alheio à tais discussões.

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Depois de sentir muuuuita raiva, eu senti ALEGRIA com a tristeza dos fascistas, que tiveram que engolir a seco, um show INTEIRO sobre resistência! Dos grupos que estavam perto de mim, muitos acabaram inclusive indo embora antes do show acabar.
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Após sentir raiva, alegria, gritar e ter todas as emoções que eu poderia ter em um show, agravadas por panópticos sonoros (n consegui encontrar uma expressão melhor pra sensação daquilo), eu chorei durante toda a música "mother". Chorei tudo que eu não havia chorado no domingo e que estava entalado aqui. Chorei pensando no cenário político, nos familiares e conhecidos que foram convencidos que ODIAR é uma solução para problemas políticos. Chorei por ler notícias sobre violência, incitados por disputas políticas. Chorei por ver a ascensão de governos violentos e IGUALMENTE corruptos sendo estabelecidos bem na nossa frente.

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O show fechou com uma imagem de amor. Duas pessoas de mãos dadas e logo em seguida, uma criança -que havia aparecido anteriormente, em uma praia completamente poluída-, encontrando sua mãe em uma nova praia, completamente limpa.

No final, minha maior tristeza foi ver que buscar a igualdade ainda é uma resistência. Mas seguimos resistentes e agradecidos por todos os artísticas, intelectuais, militantes e companheiros que seguem nessa luta!

Por fim, mas não menos importante, TUDO sempre vai ser político!

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As músicas e os shows do Pink Floyd / Roger Waters sempre foram confrontantes. Quando eles entraram no palco em 2005 no Live 8, deu pra perceber uma mudança até na atmosphera - como se saindo do raso pro profundo. Agradeço à ele pela manifestação. No Reino Unido porém, a Theresa May é mais maquiavélica que o Nigel Farage - só que ela não faz tanto escarcéu sobre a ideologias dela como ele faz. Tanto é que muita gente que votava UKIP, agora vota pro Conservative Party - ou Cockroach Party, pra expressar nojo. O extremismo religioso Evangélico e militar não só um risco de quem vai ser eleito, mas também é um risco crítico à segurança da nação de forças extrangeiras - como já vimos com Gaddafi na Líbia e o que acontece na Síria no momento. Nem na época do Collor havia tanta desavença entre a população Brasileira. Creio ter um dedo de agente extrangeiro, querendo fazer bagunça na América do Sul com o propósito de nos mantermos distraídos. Temos que eleger o Haddad 13, nos concentrar nisso, uma ponte de cada vez. Há de se lembrar que o Brasil é o quinto maior país do mundo e que temos bons relacionamentos tanto com os Estados Unidos quanto com a Rússia - o Brasil é um território estratégico para nações com alto poder de artilharia, então mais importante do que proteger o bolsa de colostomia, é importante proteger o nosso território nacional e nossa única opção nesse momento é o Fernando Haddad 13. Compartilho suas emoções, não precisava ter chego nisso, mas chegou. Eu dei apoio à uma mulher candidata, a Vera Lúcia 16, mas ela mal teve 0.05% dos votos. Me deu orgulho o trabalho do Sérgio Moro e da equipe da polícia federal e quebra meu coração ter que apoiar um partido que roubou tanto. Mas tento em vista tanta violência que já vem acontecendo com apoiadores do Shitnaro e os riscos ao território nacional, eu não tenho outra opção. #EleNão #EleNao . Voto branco é voto pro desgraçado. Então tem que ser Haddad 13.

Nossa, que relato bonito e ao mesmo tempo doloroso.

Escrevi sobre o show da terça hoje, tenho tido muitas reflexões sobre o que está movimentando essas pessoas a acreditarem cegamente nessa ideologia destrutiva que aquele cara propaga. Tenho sérios medos do que vai acontecer com o País se ele se tornar o presidente do Brasil, e estou com poucas esperanças de que seja um resultado diferente. O fato é que está tudo tão caótico agora, com violência, assassinatos e desrespeito, imagine depois...

As pessoas estão cedendo a seus piores instintos e preconceitos, ele no poder representa isso, e esse fato da liberdade a elas para se expressarem da pior forma, contrariando muitas vezes os próprios princípios, adquirindo princípios controversos... Espero que dê tudo certo, o problema, é que provavelmente piorará muito antes disso.

Ótimo texto.


ptgram

@aiuna, infelizmente acho que se ele vencer ou se ele não vencer, o país está bem enrolado. Uma bancada extremamente conservadora já foi eleita. Se o Haddad ganhar, ele vai se confortar com uma governança muito complicada, que talvez crie ainda mais um ódio anti-pt. E um fortalecimento da propagação do ódio. É aquela história né, é sempre melhor culpar alguém. E tendo uma legitimação de 40 milhões de pessoas, as pessoas com ideias fascistas já se sentem "confortáveis" o suficiente para expressá-las.

Realmente não sei o que pensar. E concordo que o problema provavelmente vai piorar. Já temos dezenas de casos de violência provocadas por eleitores do Bolsonaro. Torço para que a grande maioria dos eleitores sejam SÓ desinformados e que percebam o que ele representa DE FATO, caiam em si e comecem a combater essa ideia.

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Boa, @disruptivas! A polarização política cega as pessoas e as impedem de enxergar as consequências da sua raiva. Quem acompanha política sabe o quanto os partidos usam este método para colocar uns contra os outros. Roger Waters está certíssimo em se posicionar e pode se manifestar como quiser, quem não gostou não deve ter entendido nada das suas músicas :P Obrigado por compartilhar ;)

A polarização e também o movimento "anti" coisas, que anda bem forte. Me parece que muitas pessoas estão votando no Bolsonaro, não por ser a favor das propostas dele, até porque eles não costumam saber citar propostas, mas só porque o PT virou o inimigo número um da nação e o culpado por toda desgraçada do Brasil desde 1500.

Vi um post que resumiu bem: até esse show, tinha uma galera achando que Animals fala sobre uma fazenda, The Wall sobre engenharia e Wish You Were Here sobre uns casos de amor hahaha.

É engraçado porque vejo muita galera conservadora que ama uns rock clássicos. Acho que eles não perceberam que quase todas as bandas eram um bando de maluco, maconheiro e gay ligando o foda-se e indo contra a maré.

Foi realmente chocante ver a realidade da alienação. A premissa pra mim ficou clara, as pessoas querem consumir tudo passivamente, sem se preocuparem com o que está em jogo, o que está sendo dito ou o significado daquelas palavras e atos. É uma identificação baseada em sensação. Gosto da música porque tem um som legal. O que diz? Não tenho ideia. O mesmo ocorre com a política. Gosto de um candidato porque tenha a sensação que ele é bom. Você sabe de alguma proposta? Não e nem quero saber.

É doido, ne? Adoro o Queen, porém odeio gays, odeio discussão sobre gênero, odeio liberdade sexual. Mas adoro o queen. E é meu direito adorar a música do queen e odiar tudo que ele representa.

Grande Rafa, sua postagem foi selecionada pela curadoria do "Discutindo Musica" no @brazilians, agora com novidade nas recompensas. Um abraço com muita paz, saúde e prosperidade!