# Senhora do Medievo # | Quem inventou o amor? | Maria de França | #2
O Amor que conhecemos tem suas bases a Idade Média?
A senhora do Medievo de hoje é uma escritora...
Outra mulher escritora da Idade Média?
Exatamente, quanto mais pesquiso, maior tem ficado minha lista de nomes de mulheres que escreveram durante a Idade Média com obras que sobreviveram até nossos dias. Hoje vou apresentar um pouco sobre uma mulher, que através de seus escritos, contribuiu para que conheçamos algumas transformações de como se moldou o amor, chamado amor cortês ou amor romântico, durante o século XII. Considerada uma das primeiras vozes na literatura medieval, seu nome é Maria de França (Marie de France). São atribuídas ao seu nome três obras, as Fábulas (Fables), Purgatório de S. Patrício (Espurgatoire seint Patrice) e os Lais que serão os que parcialmente abordarei hoje.
Maria de França (1160-1215) viveu nasceu na Normadia mas viveu maior parte de seus dias no reino da Inglaterra. No Brasil temos acesso aos Lais de Maria de França em língua portuguesa através da publicação de 2001 da Editora Vozes, cuja tradução e introdução são de Antonio L. Furtado e Prefácio de Marina Colasanti.
Há uma série de elementos que permanecem ativamente presentes em nosso dia-a-dia hoje e poucas pessoas se perguntam como e quanto é que isso se tornou o que é hoje. É o exemplo da cerimônia cristã do Casamento. O medievalista George Duby afirma que foi uma forte tentativa de sacralização do casamento pela Igreja cristã, cujo público alvo era a elite senhorial por volta do século XII. Nos séculos anteriores à 1100, os casamentos realizados entre famílias, dessa ordem social, eram vistos como "contratos" entre duas famílias influentes, por isso eram realizados entre o pai do noivo e o pai da noiva. Mesmo a partir do século XII, quando a Igreja se esforça para garantir o "monopólio" da cerimônia matrimonial em seus domínios, esta era realizada fora da igreja, apenas séculos depois é que o rito desloca-se para dentro dos templos cristãos.
Mas mesmo antes da Igreja avançar sob os domínios do espaço privado do casal, havia cerimônia de união. O que ocorria sem uma padronização institucinal da Igreja como entidade. Porque, assim como a maioria das práticas cristãs, levaram-se séculos e centenas de concílios para que a Igreja se tornasse tão poderosa quanto na Idade Moderna. Ou seja, durante quase todos os séculos do Medievo a Igreja Cristão NÃO era a toda-poderosa. Inclusive haviam uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Tinha casamento gay na Idade Média???
Outro fato muito curioso que poucas pessoas sabem é que havia sim, cerimônia de união para pessoas do mesmo sexo. Segundo John Boswell, historiador da universidade estadunidense de Yale, Sergius e Bacchus, considerados os santos, é um exemplo de uma antiga união entre pessoas do mesmo sexo refletindo atitudes tolerantes do "cristianismo primitivo" em relação ao fenômeno homossexualidade. Baseada neste ícone (imagem acima), pesquisadores se somam ao professor Boswell ao alegarem ser um casamento religioso com Jesus como padrinho.
"Envie para baixo, bondoso Senhor, a graça do Teu Espírito Santo sobre estes Teus servos, a quem consideraste dignos de estar unidos não por natureza, mas pela fé e um espírito santo. Concedei-lhes a Tua graça de amar uns aos outros em alegria sem injúria ou ódio todos os dias de suas vidas ". (tradução livre)
"Send down, most kind Lord, the grace of Thy Holy Spirit upon these Thy servants, whom Thou hast found worthy to be united not by nature but by faith and a holy spirit. Grant unto them Thy grace to love each other in joy without injury or hatred all the days of their lives."
Aqui mais um exemplo de oração proclamado durante cerimônia do que Boswell considerou "funcionado no passado como uma 'cerimônia de casamento gay'." Poderia fazer uma comparação muito distante do que seria uma espécie de união estável, realizada pela Igreja. Nos contratos que encontram-se dessa uniões outra frase que aparecia era que os "irmãos" se comprometiam a viver juntos compartilhando "un pain, un vin, e une bourse" (um pão, um vinho e uma bolsa). Aqui, bolsa, remete-se aos bens materiais e propriedade que a partir de então deveria ser considerados do casal, como se fosse uma "comunhão e bens*. Ainda há muito a se pesquisar para que se possa comprovar essas práticas sociais. Mas uma coisa essas pesquisas já demonstram. Que o medievo é um período muito mais complexo, plural e até mesmo tolerante em alguns casos. Aspectos que são resultados de pesquisas do século XIX e início do XX e que continuam sendo reproduzidos no senso comum até hoje.
Fonte: NY Times Archives
Maria de França e o Amor Cortês
Os Lais de Maria de França não devem ser considerados como de sua autoria, ao menos não como consideramos autoria nos dias de hoje. Esses Lais vem de uma longa tradição de contação de histórias, ou seja, transmissão oral. Essa tradição tem uma forte presença de mulheres, principalmente durante as longas horas de trabalho, que para diversão e ao mesmo tempo moralização, as histórias eram contadas para que as outras escutasse. Ou nas cortes dos príncipes ao som da harpa, para entreter os nobres que se faziam presente.
Algumas curiosidades sobre essas histórias compiladas por Maria de França é a posição que as personagens femininas são colocadas. Enquanto nas narrativas atribuidas a autores homens, seu contemporâne Chrétien de Troyes (dos contos arturianos), o ente feérico (ou a fada) não é a mulher, sim o homem. Como é o caso do Lais: Yonec, em que uma dama esposa de um velho nobre é mantida prisioneira em sua torre, lamentando-se por ter nascido. Quando de repende uma grande ave entra em seu quarto, enquanto ela o contemplava, tranformou-se em um cavaleiro belo e nobre.
A narrativa demontra o quanto o amor da dama está para o cavaleiro e não para seu marido, a quem foi casada por obrigação. Essa e outras narrativas de Maria de França, contribuiram para a construção de um amor que deve ser fiél ao sentimento e não ao pacto que outros fizeram. É nesse período que tantas narrativas sobre donzelas são raptadas/salvas de suas torres e apaixonam-se pelo donzel que às retiram deste lamentável destino.
Posts anteriores de # Senhora do Medievo
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- Hildegard von Bingen
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Agradeço sua dedicação na leitura.
Te desejo uma excelente semana e volte quando quiser!
Referências
- STEINFELS, Peter | Beliefs; A study of medieval rituals in same-sex unions raises a question: what were they solemnizing? - Archives | 1994 | NY Times
- O'SHEA, Siobhan | Marry or Burn – 10 Surprising Facts about Medieval Marriage and Divorce | August 25, 2016 | Interesly.com
- MARIE, de France. Lais de Maria de França. Tradução e introdução de Antonio L. Furtado; Prefácio de Marina Colasanti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
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Pílulas de história e conhecimento que você distribui aqui todos os dias!
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Muito obrigado você! Tento não cansar o povo. Porque sei que nem todos gostam de história. hehehe
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