Lidando com a Síndrome do Pânico - 2

in #undefined5 years ago


Tarefas e atividades normais para um pessoa que não tem qualquer distúrbio de ansiedade, como a síndrome do pânico, tornam-se monstruosas para alguém que sofre com as crises de pânico e que nunca sabe quando a próxima crise pode vir.

Ficar sozinho, fazer uma viagem sozinho, ficar longe da família, dirigir... São desafios enormes. Não é apenas o medo da atividade em si que nos corrói por dentro. Quem tem síndrome do pânico sofre com o medo da crise... e o medo alimenta o próprio medo. A autovigilância nos dá a sensação de que é possível controlar para que uma próxima crise não venha. Mas, às vezes, é justamente o estado de alerta mesclado ao medo que a autovigilância nos traz que nos deixa propensos a ter uma próxima crise.

O medo da crise nos faz sentir medo diante de qualquer emoção que seria natural para uma pessoa que não tem síndrome do pânico. Todas as pessoas sentem emoções como angústia, tristeza, saudades e nostalgia. Para alguém que sofre com síndrome do pânico, uma angústia por uma situação real, já é motivo de alerta, autovigilância e stress emocional... E aí o processo da síndrome do pânico inicia. Não deixamos que essas emoções fluam e se vão, como ocorre normalmente. Nós acabamos negando ou tentando controlá-las, para que não acabem despertando uma nova crise. Por exemplo, às vezes uma simples viagem de um filho, dos pais ou do marido/esposa nos traz certa apreensão... O que seria normal. Mas o stress que as constantes crises de pânico gera em nosso mundo emocional não permite que essas emoções rotineiras fluam normalmente. E qualquer situação atípica pode despertar a síndrome do pânico. Ou às vezes somos nós quem precisamos viajar. E a apreensão, a ansiedade e o medo vão conosco... como uma bagagem a mais... e bem pesada por sinal. Obviamente a questão sobre viajar é um exemplo. Não é todo mundo que sofre de síndrome do pânico que tem esse medo especificamente. Cada um tem seus gatilhos psicológicos e a ideia, para amenizar as crises, é buscar entender quais são meus gatilhos psicológicos e porque eles nos geram ansiedade desmoderada.

Nós, que temos síndrome do pânico, às vezes sem querer potencializamos essa apreensão normal que surge em qualquer pessoa quando se encontra em uma situação atípica para ela. Nós sem querer já rotulamos como o possível início de uma nova crise e ficamos autovigilantes. Às vezes é preciso dizer pra si mesmo: "Essa emoção que estou sentindo é completamente natural e ela vai passar. É natural sentir apreensão, ansiedade e medo em situações atípicas. A minha mente e as minhas emoções são aptas a lidar com esse tipo de emoção." Claro que, dependendo do nosso estado emocional, as coisas podem não ser tão simples assim. Quando vemos, o pânico já se instalou e às vezes nem chegamos a nos dar conta de qual foi o gatilho, pois alguns gatilhos são provenientes do inconsciente. Mas é preciso nos familiarizarmos com os nossos gatilhos... Aprender a desarmá-los sempre que for possível. Aprender a entender quais são as situações que normalmente me afligem. Sentir medo é natural e inevitável, mas lutar diretamente contra ele só gera mais e mais ansiedade e apreensão. Às vezes é preciso aceitar que terei que lidar com ele em alguns momentos. Ele estará presente, mas não necessariamente tomará conta de mim.

Apenas nós que temos síndrome do pânico é que sabemos o que é passar por uma crise. É realmente doloroso psicologicamente e emocionalmente. É algo que mina toda a nossa energia. Às vezes, podemos sentir-nos sozinhos e "injustiçados" por ter que conviver com esse distúrbio e por ter que abrir mão de fazer coisas que todos fazem sem qualquer problema. Às vezes sentimos que nunca teremos uma vida normal. Mas todas as pessoas enfrentam situações complicadas e conflituosas em algum momento da vida. E o pânico pode também ser algo passageiro. É possível aprender a ir desativando nossos gatilhos aos poucos... à medida que compreendemos o processo do pânico dentro de nós. Eu tinha crises muito intensas durante todos os dias e deixei de fazer muitas coisas que as pessoas normais fazem. Cheguei a ouvir de um especialista que essa situação seria para o resto da vida... e que eu precisaria aceitar e tomar remédios. Consegui, através da meditação e da mudança de hábitos, ir desativando os meus gatilhos interiores... sem remédio (embora eu pense que com os remédios poderia ter sido mais fácil). Foi uma longa e árdua jornada interior. O principal motivo da minha vida, por três anos, se tornou ficar livre da síndrome do pânico. E funcionou. Há muitos anos não tenho crises , apesar de sentir ainda que tenho ainda um desequilíbrio emocional em relação ao medo e a ansiedade... Mas essas emoções não mais se transformam em crises de pânico. Aos poucos, fui incluindo em minha rotina várias atividade que eu havia excluído por conta do pânico. Então, sei que é possível!

A principal estratégia que usei foi deixar de fazer tudo o que me deixa ansiosa... E incluir em minha rotina tudo que me acalma e me ajuda a entrar em contato com o momento presente (yoga, tomar sol, atividade física intensa). É preciso que as atividades que nos conectam com a nossa confiança interior se tornem rotina... É preciso sustentá-las mesmo nos períodos em que as crises vão embora. E é bom que não as façamos como se estivéssemos lutando contra o pânico, mas de forma descompromissada.

De forma descompromissada, ou seja, sem muita autocobrança ou peso,
é preciso também entrar em contato com as nossas emoções quando tudo está calmo. Às vezes passamos a ter medo de entrar em contato com as emoções por causa do receio de que as crises de pânico voltem. Então deixamos o nosso mundo emocional como um barco solto no cais... não muito longe da terra firme, sempre com o receio de que chegue uma tempestade capaz de chacoalhá-lo e deixá-lo à deriva. Nós deveríamos, no entanto, nos momentos de tranquilidade, construir uma âncora bem forte capaz de nos sustentar durante as tempestades.
É transformando o modo como eu lido com as emoções nos momentos de calmaria que define a minha capacidade de lidar com elas durante uma possível crise de pânico. O caminho para lidar com elas não está na autovigilância, mas na aceitação e na compreensão dos gatilhos psicológicos que as desencadeiam...